10/05/2018 / Educação Infantil, Fundamental 1, Fundamental 2, Nossa Escola
TODO DIA É DIA DE MÃE, DE PAI, DE AVÔ, DE QUEM CUIDA!
Por: Cris Musa – Diretora Pedagógica
TODO DIA É DIA DE MÃE, DE PAI, DE AVÔ, DE QUEM CUIDA!
Estamos próximos ao Dia das Mães e nesta ocasião batem a nossa porta todo tipo de publicidade: promoções, algoritmos das redes sociais e de informações que trabalham a todo vapor, bazares, combos, lojas abertas até mais tarde… Temos considerado porém, que, na escola, isso deve ser visto com crítica e como possibilidade de reflexão e discussão.
Afinal de contas, o que queremos ensinar aos nossos alunos? O que queremos construir com eles em relação a todas essas questões?
Há algum tempo, na verdade anos, vimos discutindo vários aspectos das comemorações dos dias das mães e dos pais aqui na Miró. Primeiramente, as homenagens eram feitas com lembrancinhas confeccionadas pelos nossos alunos e alunas na semana da data comemorativa. Tudo parava e a escola virava um espaço de produção em série de várias lembrancinhas. Com o passar dos anos tínhamos a nítida impressão de que algo estava errado… A primeira reflexão e mudança que fizemos foi em relação a esses presentinhos. Percebemos que estavam bastante sem sentido para as nossas crianças e adolescentes, e que, muitas vezes, eles nem reconheciam o que haviam feito de forma meio abrupta e sem significado. Resolvemos então dar mais sentido a esses presentinhos e os vinculamos aos projetos de estudo da sala de aula. Alguns produtos dos estudos foram, dessa maneira, adaptados, em termos de época do ano e formato, para presentear as mães e os pais. O sentido do produto para as crianças e adolescentes ficou mais claro, como produto final do seu trabalho. Dessa forma, o significado gritava, era realmente deles o presentes confeccionado para os pais e mães, era de cada um o tempero que plantavam, o chá com bolachinhas, o livro de receita preferida dos amigos, a camiseta com pinturas que traziam referências do pintor ou movimento artístico que estudavam, o livro de poemas da sala com todos os dilemas adolescentes que cabiam nele, ou ainda, o autorretrato estampado cuidadosamente em uma tela.
Sempre voltando à pauta de temas de discussão, uma vez que nunca estávamos completamente tranquilos em relação a essas datas, a equipe pedagógica da Miró começou a questionar se era preciso demonstrar afeto com algo material… E não é de se pensar? Assim, começamos a configurar as homenagens aos pais e mães com vivências na escola. Foi um outro passo importante de transformação das tradicionais comemorações. Geralmente, o que os pais e mães viriam (e ainda vêm!) fazer na escola era escolhido pelos alunos e alunas, assim como o formato, o espaço, o convite. Tivemos resultados bastante interessantes e agradáveis dos pais mais presentes nesse espaço e das crianças e adolescentes cheios de expectativas em esperá-los.
Dentro desse processo de reflexões e buscas, foi um formato com o qual nos identificamos muito enquanto instituição educacional que quer homenagear os pais sem, necessariamente, a lógica do consumo e do presente sem sentido e sem que, contudo, gastássemos o nosso precioso tempo escolar, já tão escasso, com isso. Às vezes, para os adultos, pode parecer um pouco desconfortável e enfadonho vir brincar na quadra, jogar um jogo de tabuleiro, representar, experimentar ou vivenciar um pouco do que os seus filhos fazem por aqui como parte das suas aprendizagens, mas para esses aprendizes, há uma expectativa grande e um encantamento em ver os pais por aqui, no seu lugar, durante essas vivências de coisas para fazer junto.
Enfim, parecia termos chegado ao ponto que queríamos, de desconstrução dos festejos tradicionais dessas datas comemorativas e, ao mesmo tempo, estávamos mantendo os estudos curriculares e seus produtos, garantindo vínculos de afeto que tanto prezamos, homenageando as mães e os pais dos nossos alunos e incentivando a relação entre pais e filhos de forma cuidadosa sem o foco comercial por perto. Não era perfeito? Porém, ainda algo nos incomodava muito, desde sempre, mas foi preciso desnudar e tirar da frente todos os outros aspectos, citados acima, para que pudéssemos, realmente, dar de cara com, talvez, o mais importante: os formatos diversificados das famílias e, muitas vezes, a impossibilidade de muitos pais e mães estarem presentes. Há crianças e adolescentes que são cuidados por seus avós, por exemplo, outros têm pais que viajam, moram fora ou não podem se ausentar de seu trabalho, outros ainda têm pais separados, famílias homoafetivas, ou ainda, o mais difícil, são órfãos… Tudo isso trazia nessas ocasiões, em muitos aspectos, algum tipo de sofrimento e constrangimento praticamente em todos os nossos grupos de alunos. Lembro-me em uma ocasião em que um menino pediu ao seu pai que ele não viesse ao dia dos pais, uma vez que o seu colega não tinha pai e ele não queria ver seu amigo sofrer, ou pelo menos sofrer sozinho… e, como todos já devem estar imaginando, outros muitos constrangimentos dessa ordem aconteceram (e acontecem!!!).
Ora, deveria se aqui, na escola, lugar de formar gente que se ocupa do outro e do que o outro está sentindo, sermos os agentes desses desconfortos sistemáticos e tristezas tão profundas de alguns?
Depois de todo um amadurecimento com muitos discernimentos e reflexões nesse processo, decidimos não mais comemorar essas datas. Reafirmaremos sempre o propósito maior de homenagear quem cuida das nossas crianças e adolescentes e resguardar, além de provocar aspectos afetivos dessas relações. Continuaremos, dessa maneira, querendo cada vez mais as famílias dentro da escola para contribuírem com o crescimento de todos e para vivenciarem o dia a dia dos filhos. Continuaremos, portanto, a propor esses encontros de forma pulverizada no tempo, com pretensões miúdas (e graúdas ao mesmo tempo), que engrossam o caldo dos nossos dias de Miró… porém, sem que, contudo, tenhamos que promover essas datas que foram ficando totalmente automáticas, secas e esvaziadas de sentido no âmbito escolar (pelo menos na nossa escola!).
Que esses pequenos encontros espalhados pelo ano possam tecer caminhos palpáveis, pontes de afetos fortes, que cada pequeno jogo, poema, aula aberta, brinquedo, exposição, evento, olhar, degustar, apresentação… se torne grande! Feito abraço de mãe!
