02/06/2021 / Fundamental 2

AULAS DE CONVERSAÇÃO: OITAVO E NONO ANO

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Por Sarah Prado (Professora de Conversação dos 8ºs e 9ºs anos do Fundamental 2)

Sabemos que crescer não é tarefa fácil. O desenvolvimento do ser humano envolve além de muitos outros aspectos, a capacidade de separar-se do outro e ir em busca do novo. Separar-se também não é fácil, inclui deparar-se com medos, incertezas, diferenças, faltas. Apesar de difícil, sabemos que separar-se é tarefa essencial para constituição de um sujeito. Ou seja, um indivíduo precisa ser capaz de reconhecer-se como diferente e também pertencente a alguns grupos, de sentir-se em alguns momentos só e em outros amparado, frustrar-se e em outras situações sentir-se satisfeito. Nessas alternâncias construímos nossa subjetividade.

Esse “vai e vem” não acontece sem doses de angústia. Vivências e experiências nos ajudam nessa construção de nós mesmos que nunca cessa, mas que em alguns períodos é mais intensa. Talvez os últimos anos do ensino fundamental sejam um desses momentos, em que há maior certeza da distância e afastamento da infância e um caminho que começa a ser trilhado para o mundo adulto. Nesse árduo percurso diferentes conflitos se estabelecem, para alguns mais evidentes e barulhentos, para outros, silenciosos, difíceis de serem escutados.

Os encontros nas aulas de Conversação vêm sendo construídos para serem um espaço que cada vez mais propicie o exercício de pensar e refletir. Trabalhamos para que diante dos estímulos, seja um filme, um documentário, uma música, uma obra ou mesmo algo criado pelos próprios alunos, cada um possa olhar para si, considerar seus sentimentos, percepções e emoções e encontrar espaço para compartilhar, para abrir aos outros parte do seu mundo.

Constatamos que um espaço de maior intimidade e liberdade para se expressar vêm sendo criado, construído a cada aula. Nos encontros, os alunos e alunas podem se acompanhar e se interrogar, formando laços e identificações que são constitutivas, tanto nas semelhanças quanto nas diferenças. Entre os pares, os jovens compartilham formas específicas de ler/ver o mundo, entre todas essas formas vão crescendo, vão pensando, vão amadurecendo… uma aluna diz em um encontro: “Eu penso assim agora, mas ainda estou formando a minha personalidade, sinto que estou mudando”. Assim ela pôde expressar sua consciência de estar em um processo significativo de mudanças, construção de si mesma e, mesmo assim, ousar expor suas percepções.

Nesse período de transformações intensas, diversas indagações e receios vão surgindo: “Quem serei no futuro? Vou dar conta de tudo? Tenho medo de ficar sem amigos… Queria conseguir falar o que penso… Queria que os adultos entendessem melhor o que sinto… Queria ser um melhor aluno… Queria não me cobrar tanto… Sinto medo de dizer o que sinto e ouvir que isso é besteira…” Nessas vivências, questionamentos e incertezas vão sendo compartilhados, melhor compreendidos, discutidos e transformados.

Abaixo estão alguns dos estímulos que utilizamos para nossas conversas:

– O sofrimento dos homens;

– Divertidamente;

– Atravessa a vida;

– As vantagens de ser invisível;

– Espero tua (re)volta.

A partir desses e de outros disparadores os alunos podem encontrar lugares de identificação e também de diferenças, reconhecer-se em alguns e colocar-se em situações nunca imaginadas.

Nos encontros no mês de maio, além de estímulos audiovisuais e textos, planejamos, em parceria com o Instituto Figueiredo Ferraz, vivências a partir da arte, uma potente ferramenta de acesso à subjetividade e de expressão.

Assim, fechamos nosso primeiro trimestre de trabalho: investimento na criação de vínculos, exposição de estímulos com a temática da adolescência, abertura de espaços de troca, criação de possibilidades de contato com o mundo interno. Apostamos na diversidade de formatos como conversas em pequenos grupos, estudos de casos, discussões com toda a sala para que nossos jovens tenham a oportunidade de, no espaço coletivo da escola, olhar para outro e, assim, também encontrarem-se a si mesmos.

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