22/03/2018 / Fundamental 2, Interclasses
O Interclasses na Miró: uma abordagem educativa para uma outra concepção de currículo
Por: Marina Senne – Coordenadora do Fundamental 2
Acreditamos em uma escola que se preocupa com a formação integral de seus alunos. Isso significa, que nossas intenções pedagógicas se voltam tanto para construção de conteúdos acadêmicos e cognitivos como, por exemplo, expressão numérica, revolução francesa, elaboração de texto crítico, uma boa interpretação de textos jornalísticos, quanto para formação moral (afetiva e social). Todavia, a formação humana (também chamada de moral) exige um tempo pedagógico. Se acreditamos que nossos alunos devem ser mais cooperativos, criativos, pouco preconceituosos a escola deve criar espaços para que os estudantes possam pensar sobre essas questões, possam ouvir outros pontos de vista e exercer tomadas de decisão de maneira democrática. A formação humana não acontece só de maneira espontânea e emergente. Pelo contrário, a escola precisa antecipar intencional e curricularmente esses momentos de trabalho com valores morais. Nesse sentido, o interclasses é um desses períodos propositados e previstos em nosso currículo para olharmos para a formação afetiva e social. Momento potente de exercer a democracia, se colocar no lugar do outro, lidar com frustrações, aprender a perder e a ganhar. Ele está previsto no início do ano, pois é um contexto de integração importante entre as salas, sobretudo dos alunos do 6º ano que passam a conhecer melhor os demais estudantes e alguns aspectos sociais e culturais do novo ciclo, o do Fundamental 2. Oferecemos diversas modalidades no campeonato para que diferentes habilidades sejam valorizadas: xadrez, tênis de mesa, produção artística, badminton, mini-vôlei, truco e futsal. A cada ano o campeonato fica mais desafiador, pois como essas modalidades não exigem só a força física é possível que os alunos mais novos possam competir com maior pé de igualdade (este ano, por exemplo, o 6º ano foi campeão em xadrez, produção artística e tênis de mesa feminino).
Mas nem tudo é um mar de rosas, nesses momentos surgem inúmeros conflitos como: não sou titular, perdi um jogo importante, o fulano não foi me substituir no horário combinado, vou jogar com meninos muito mais velhos. Para nós, esses conflitos são muito pujantes para conversarmos juntos, trocar impressões, refletir sobre as regras e possibilidades que se tem em mãos, rever posições…. Por isso, o momento do interclasses é um período também bastante agitado para a equipe de educadores da Miró que, presente e comprometida o tempo todo, procura estratégias para acolher as demandas e transformar essas experiências em movimentos de preciosa aprendizagem. Este ano a nova regra de desempate no futsal dependia da circulação entre titulares e reservas. Com essa medida foi possível estimular a participação de todos os alunos nos jogos. Os professores puderam acolher frustrações, conversar com a sala, rever convocações, provocar com significatividade o “se colocar no lugar do outro”. Entendemos o incômodo comumente gerado quando pensamos que nossos filhos estão sem aula, sem tarefa, pois associamos, em geral, a um momento em que estão sem aprender. Contudo, é o oposto disso o que proporcionamos. Para nós é um período caro e convicto de aprendizagem voltado para a formação para a vida. Assim, estamos mergulhados e comprometidos com o desenvolvimento social e afetivo de nossos alunos, meta coerente com as competências para o século XXI e com a formação integral pela a qual tanto lutamos. “Nossa visão é a de que aprender significa desenvolver novas competências e realizar o potencial humano que cada um de nós traz dentro de si, mas que precisa ser exposto no dia a dia do viver.” (Renato Kraide Soffner. Competências do século XXI)